domingo, 5 de junho de 2011

Across The Universe



    Já havia me acostumado com a idéia de que minha vida era previsível o bastante pra não ser mais chamada de vida, e sim de um roteiro cheio de sensos comuns, com uma ou duas cenas erradas, mas que poderiam ser refeitas até estarem de acordo com o texto.
Só que meu futuro sumiu no momento em que fiz de você, nós. Agora dói! Dói não saber o que vem. Dói não conseguir prever cada Ato da trama. Dói me sentir pequeno e perdido em meio a isso tudo. Me dói olhar pra ti e não ver nada além de ti, não saber qual será sua próxima fala. Me dói mais ainda ser o diretor que não tem controle sobre os atores.
    Mas depois que se cresce, não dá mais pra ligar pra essa dor. Agora o que não passava de uma estátua de rua que quando lhe jogavam uma moeda, se mexia, vai ser a peça mais assistida da Broadway em pleno quatro de julho.
    Nessa peça, claramente se verá vida. Verá drama, comédia e o mais puro e safado romance. Uma peça com dois atuantes e vidas tão imprevisíveis quanto a expressão de cada expectador da platéia ao acender das luzes.
    O final dessa vez é incerto, principalmente para o diretor que largou o roteiro pra contracenar logo ao abrir das cortinas, por ver magia desde a primeira vez que a atriz foi vista.
    Agora, ator e atriz se olham e choram. Se vêem um no outro, sentem cada lagrima correr como se a dor e a felicidade ali encenada fosse real. Talvez por isso agora eles se olham e não conseguem se lembrar do que deveriam fazer. As falas sumiram. As marcações de palco foram esquecidas. Agora tudo vem deles, nada mais poderá interferir no final imprevisível que virá. Toda responsabilidade da peça ter valido o ingresso está em quatro mãos e dois corações.
... No clímax, a cortina se fecha aguardando o próximo Ato...