Ela se escondeu atrás de tudo para que nada pudesse chegar a ela, nem os menores sentimentos. Ela se fechou de tudo e de todos, ninguém entendia por que ela fizera isso. Todos a amavam, mas o amor deles nunca foi suficiente para arrancar toda essa proteção em que ela se colocou. O amor foi pouco, ninguém nunca a amou de verdade, nunca se importaram de verdade. Mas sempre tentavam lhe tirar uma casca.
Uns abraçavam por que queriam sexo com a garota mais linda de toda sua vida, outros a abraçavam para poder acertar uma facada bem em seu rim direito sem que ela visse. E outros só por que isso de tentar dar conforto virou uma modinha. Mas ela estava ciente de tudo, ninguém nunca a enganou. E a cada ato de seus “amigos”, mais ela se perdia em seu vazio.
Às vezes acho que nem ela entendia tudo aquilo, ela parecia tão acima de tudo, mas tão abaixo de si, não dava pra entender o que acontecia. E a cada noite, a cada duvida, ela tinha certeza de que não pertencia a isso tudo. Ela era diferente. Nunca houvera alguém como ela, uma moça que só vestia branco, e que tinha um vazio tão negro. O sexo já não tinha amor, e o amor já não tinha prazer. Todos os homens e garotas com quem se envolveu, ela não guardara uma única lembrança.
Chegou à noite em que ela não mais encontrava razões aqui, mas ela ainda estava com sede de algo, nem que fosse uma ultima emoção. Estava ela ali, já se sentindo melhor só de pensar em que essa seria sua ultima noite se angustia. A cada minuto, mais ela se excitava, e com isso ela pensou que quanto mais durasse a sua partida mais ela sentiria prazer. Ela tomou uma faca a mão, e começou a se esvaziar do sangue que tanto queria derramar. A cada corte um prazer diferente, isso realmente estava lhe fazendo feliz, a cada vez em que se aproximava mais da porta que dividia essa vida da outra, mais ela se sentia bem.
Até que aconteceu uma coisa que não esperava, lhe veio o sorriso de quem realmente importava com ela. Sentiu que aquela pessoa poderia lhe tirar daquilo tudo e voltar a fazê-la feliz. Mas já era tarde, essa imagem demorou muito a aparecer, ela já tinha aberto a porta. Seu coração novamente voltou a encher de angustia pois ela não queria mais sair daqui, mas agora era tarde, e ela partiu. Partiu e por causa daquela imagem ela viverá a eternidade na certeza de ter feito a coisa errada. E isso a consumirá de pouco em pouco, como os cortes que havia feito em si, mas agora não irá ser prazer, agora irá ser novamente seu vazio, e que será sua sina para sempre.
